Toda luz que não podemos ver, de Anthony Doerr
Editora: Intrínseca
Tradução: Maria Carmelita Dias
Publicação: 2015
Por Suzane Madruga
O romance é protagonizado por Marie-Laure, uma menina francesa cega que vive com o pai em Paris. Quando Marie tem 12 anos, em 1940, Paris é ocupada pela Alemanha, fazendo com que ela e o pai, Daniel LeBlanc, tenham que fugir para longe da cidade, passando a viver com o tio-avô de Marie, Etienne, em Saint-Malo.
O outro protagonista da narrativa é o jovem alemão Werner Pfenning, um rapaz órfão que, antes de entrar para a Juventude Hitlerista, vive com a irmã, Jutta, em um orfanato pobre de Zollverein. As crianças que ali viviam, em sua maioria, perderam os pais por causa de uma mina de carvão da cidade. Esta última informação é importante porque é por causa dessa mina que Werner aceita a formação militar a fim de não ter o mesmo destino que o pai.
A obra alterna presente e passado dos personagens, apresentando a infância de Marie-Laure, que perde completamente a visão aos 6 anos, e de Werner, que encontra um rádio e, quando consegue fazê-lo funcionar, tem sua vida transformada para sempre. Já adolescentes, eles estão no fim da guerra, passando por momentos decisivos.
A narrativa é belíssima, muito bem elaborada, com os entrelaçamentos e a construção dos personagens, suas complexidades e escolhas apresentadas de modo inteligente e sensível. Além disso, a presença do rádio, das mensagens transmitidas por suas ondas, e da literatura deixam a trama mais interessante, fazendo com que a complexidade humana e os desejos mais íntimos dos personagens possam ser explorados de forma simbólica e rica. Dois livros são importantes para essa simbologia, representando os desejos de liberdade e a busca pelo conhecimento: The Birds of America, de John James Audubon, obra preferida do colega de Werner na escola militar, Frederick, e Vinte mil léguas submarinas, de Jules Verne, edição em braille que se torna o refúgio da protagonista Marie-Laure.
Leitura recomendadíssima, obra merecedora do reconhecimento que tem obtido, com personagens bem descritos, cujos traumas e dificuldades são apresentados de modo a permitir a reflexão e a empatia. Trata-se, enfim, de algo muito diferente de sua adaptação para a televisão, que diminui imensamente os personagens, tornando-os caricatos e vazios, bem como desconsiderando a importância dos acontecimentos que servem como pano de fundo da narrativa.
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